TARSILA DO AMARAL

Seu amor à arte iniciou com a família, em saraus domésticos em
que a mãe tocava piano e o pai lia poemas em francês. Aos 16 anos foi estudar em Barcelona, na Espanha, onde
literatura e desenhos passaram a fazer parte de sua vida.
Voltou para o Brasil em 1906, a fim de casar-se com o marido
que sua família escolhera. União que se revelou infeliz dada a
diferença cultural gritante entre os cônjuges. Do casamento
fracassado – mais tarde anulado - teve uma filha: Dulce. A essa altura, uma decidida Tarsila já emergira e agora se
esforçava para seguir a vocação para a pintura. No início de
seus estudos artísticos, com os escultores Zadig e Mantovani, e
com o pintor Pedro Alexandrino, não havia ainda os sinais do
que ela viria a ser. Eram somente naturezas mortas e
paisagens, ainda muito distantes de seu surto criativo em
outros momentos.
Depois disso fez uma rápida passagem entre os impressionistas e
em 1920 seguiu para a França, onde freqüentou a Academia
Julian, e o atelier do retratista Émile Renard. Algumas de
suas pinturas desse período apontam influências de Renard,
então um artista da moda: tons de cor desmaiados, com
predomínio do azul. Esses também muito distantes da arte que
ela viria a construir, mas já se pode verificar nessas telas a
promessa do que viria futuramente sob as formas simplificadas e a
iluminação particular.

Com Oswald, Menotti, Mário de Andrade e Anita Malfatti, compõe
o chamado Grupo dos Cinco, que teve vida curta. No final de
1922 ela decide voltar para Paris, mas havia um Oswald no meio
do caminho. Esse homem impetuoso, apaixonado e um mestre da
ousadia a seguiu pela Europa e teve com ela mais que um
casamento. Fizeram uma parceria intelectual poderosa em que um
alimentava a arte do outro. Em 1923, Tarsila passa a travar
contato com mestres cubistas, entre eles Picasso, Fernand
Léger e André Lothe. De Léger guardará influências que serão
visíveis em muitos dos seus trabalhos. Nesse período conhece
artistas do porte de De Chirico, Stravinsky, André Breton e Blaise
Cendrars.
Suas telas estão nitidamente cubistas, mas impregnadas de uma
brasilidade que se manifesta sobretudo nas cores, que Carlos
Drummond tão bem definiu: “O amarelo vivo, o rosa violáceo, o
azul pureza, o verde cantante”.
Em 1924, depois de uma viagem feita com Oswald e Blaise
Cendrars às cidades históricas de Minas Gerais, atirou-se a
uma pintura que Sérgio Milliet definiria assim: “Cores ditas
caipiras, rosas e azuis, as flores de baú, a estilização
geométrica das frutas e plantas tropicais, dos caboclos e
negros, da melancolia das cidadezinhas, tudo isso enquadrado
na solidez da construção cubista”. É a fase Pau-Brasil
registrando cidades, paisagens e tipos comoventemente
brasileiros.
Em 1928, há dois anos casada com Oswald de Andrade, a união Tarsiwald
produz ousadias. Ela decide dar ao marido um inusitado
presente de aniversário: pintar um quadro “que assustasse o
Oswald, uma coisa que ele não esperasse”. Nasce então o Abaporu,
figura monstruosa de cabeça pequena, braço fino e pernas
enormes, tendo ao lado um cactus cuja flor dá a impressão de
ser um sol. Ao ver tal imagem, Oswald realmente se assusta.
Acha a composição extraordinária, selvagem: “Uma coisa do
mato”.
O poeta Raul Bopp, chamado a ver a
proeza, concorda com a avaliação. Tarsila foi na esteira e resolveu
dar um nome também selvagem ao quadro: Abaporu, palavra
encontrada no Dicionário de Tupi-Guarany de Montoya, e que em
língua indígena significa “antropófago; homem que come carne
humana”. A partir dessa obra – até hoje a mais valiosa da arte
brasileira e atualmente fazendo parte da coleção do argentino
Eduardo Constantini - se constitui a fase dita por isso mesmo
antropofágica de Tarsila. Oswald elabora o Movimento
Antropofágico, com direito a manifesto e à Revista de
Antropofagia. A pintura de Tarsila cresce. As formas
volumosas, as cores exuberantes, um quê de Brasil autêntico
desafiando tudo o que se via na pintura de então.
1929 foi um ano trágico. Afetiva e socialmente. O crash
da Bolsa de Nova York resultou na perda de sua fazenda. E o
casamento com Oswald – notório mulherengo – também acabou-se.

Os quadros de sua chamada fase social
registram dores imensas, estampadas em figuras miseráveis,
injustiçadas. Opressão, desigualdade e rostos desarvorados invadem
suas telas.
Depois disso, Tarsila não mais inaugurou novas experiências:
limitou-se a revisitar as fases anteriores, concentrando-se em
temas como folclore e religião Sua última grande obra — o
mural Procissão do Santíssimo em São Paulo no Século XVIII, é de 1954.
Morreu a 17 de janeiro de 1973, aos 86
anos deixando pouco mais de duas centenas de quadros, alguns
desenhos e esculturas. É relativamente pouco, mas fundamental
para uma busca que prossegue até hoje: a consolidação de uma
pintura nacional.
Algumas obras de Tarsila do Amaral:






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